quinta-feira, 8 de novembro de 2007

Celibato: sim ou não?

Padre e ex-membro da Igreja discutem assunto polêmico


Patrícia Rapôso e Thereza Gerhard

Casos de abusos sexuais contra menores, envolvendo padres, vêm se sucedendo em vários países, inclusive no Brasil. Nos últimos dias, o padre Júlio Lancelotti, 58 anos, passou a sofrer este tipo de acusação, da parte de Anderson Marcos Batista, 25 anos. Anderson, que vinha extorquindo o padre, alega que o religioso abusou sexualmente de seu enteado, de 8 anos.


As recentes denúncias serviram, também, para reacender a discussão sobre manutenção do celibato entre os sacerdotes da Igreja.


Celibato

O celibato é o estado de quem se mantém solteiro. E, quando um padre faz este voto, isto também implica em sua castidade, ou seja, em não ter relações sexuais. O concílio do Vaticano II diz que o celibato, enquanto atitude radical de despojamento, é fonte especial de fecundidade espiritual para o mundo, tão voltado ao uso e abuso do sexo, do dinheiro e do poder.

O professor de Direito Alcino Camatta, 79 anos, foi e ainda é padre, porém não pratica a vocação. Aos 11 anos ele foi para o seminário e ordenou-se aos 28 anos. Entre os anos 60 e 70, o professor lembra que foi uma época contestadora e discutia-se, entre outros temas, o celibato obrigatório. E essa foi uma das razões para Alcino deixar o sacerdócio. O professor de Direito afirma que o celibato não é uma questão de fé, mas sim histórica. O padre Valdir Piatti, da Igreja Matriz de São Sebastião, em Barra Mansa, confirma este fato e conta que até o século XI não havia celibato obrigatório. Somente em 1079 foi instituída a doutrina do celibato obrigatório na Igreja Católica. Segundo o padre Valdir, o celibato serviu para que só entrassem na Igreja pessoas que tinham vocação religiosa. Até então “a vida sacerdotal era profissão e não vocação”.

No ano passado, cerca de 70 mil padres abandonaram a batina para se casar. O Vaticano estima que existam 400 mil padres católicos em todo o mundo. A média de idade dos padres no mundo é superior aos 60 anos e, em muitos países, o número de novos sacerdotes não é suficiente para substituir os atuais.

Segundo reportagem da Folha de São Paulo, acredita-se que a obrigatoriedade do celibato seja um dos maiores problemas para o recrutamento de novos padres. É difícil manter o celibato por diversas razões: “Por causa do pluralismo de idéias, de uma abertura maior e da eliminação de sinais como a batina. Não existe mais respeito”, afirma Alcino Camatta.

O professor Alcino e o padre Valdir dizem que é possível conviver e manter o celibato. “Os votos de celibato são sempre adequados porque é uma opção de vida”, afirma Valdir. “O homem é capaz de se comprometer. Ele faz as suas escolhas e é responsável pelo que está fazendo”. Quando um homem entra para o sacerdócio ele tem consciência da opção e se não puder seguir as regras e manter o celibato ele tem liberdade para sair.

Embora tenham visões e vínculos diferentes com a Igreja, Alcino e Valdir concordam que seria difícil acabar com o voto de celibato. Para o padre Valdir, haveria a descentralização da Igreja, que ficaria mais próxima do convívio familiar. Já para o professor Alcino, criaria-se uma revolução interna. Os padres questionariam: “Vivi 50 anos e só agora isso muda?”, sugere Alcino. A Igreja Católica teme mudanças: “Teme porque é histórico”, completa Alcino.

Em artigo para o jornal Natalpress, o padre Agustin Juan Calatayud y Salom da Paróquia de Nossa Senhora da Esperança, em Natal, RN, traz uma opinião que leva a refletir sobre o celibato: “Celibato, sim, como expressão de liberdade e de fé ao reinado de Deus. Celibato, não, quando é expressão de repressão e de frustração e quando é uma obrigação e uma imposição”.


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