Thereza Gerhard
Drummond nasceu em Itabira, Minas Gerias, em 1902.
“Alguns anos vivi em Itabira.
Principalmente nasci em Itabira.
Por isso sou triste, orgulhoso: de ferro.”
Estudou em colégios internos. Foi expulso da escola de Nova Friburgo, Rio de Janeiro, acusado de “insubordinação mental”. Em 1921 começou a colaborar com o Diário de Minas.
“O fato ainda não acabou de acontecer
e já a mão nervosa do repórter
o transforma em notícia.
O marido está matando a mulher.
A mulher ensangüentada grita.
Ladrões arrombam o cofre.
A polícia dissolve o meeting.
A pena escreve.
Vem da sala de linotipos a doce música mecânica.”
Em 1925, diplomou-se em farmácia, profissão pela qual demonstrou pouco interesse. Nessa época, já redator do Diário de Minas, tinha contato com os modernistas de São Paulo. Na Revista Antropofagia publicou, em 1928, o poema “No meio do caminho”, que provocaria muito comentário:
“Nunca me esquecerei desse acontecimento
na vida de minhas retinas tão fatigadas.
Nunca me esquecerei que no meio do caminho
tinha uma pedra.”
Ingressou no funcionalismo público e em 1934 e mudou-se para o Rio de Janeiro. Em agosto de 1987, Julieta, única filha do poeta, morreu. Doze dias depois, Drummond faleceu.
O poeta havia publicado vários livros de poesia e obras em prosa - principalmente crônicas. Em vida, já era consagrado como o maior poeta brasileiro.
Alguns poemas, crônicas e textos em prosa de Drummond relatam acontecimentos banais, corriqueiros, gestos ou paisagens simples.
Muitos poemas de Drummond funcionam como denúncia da opressão que marcou o período da Segunda Grande Guerra.
A consciência do tenso momento histórico produz a indagação filosófica sobre o sentido da vida, pergunta para a qual o poeta só encontra uma resposta pessimista.
“E agora, José?
A festa acabou,
a luz apagou,
o povo sumiu,
a noite esfriou,
e agora, José?
e agora, Você?
Você que é sem nome,
que zomba dos outros,
Você que faz versos,
que ama, protesta?
e agora, José?”
O passado ressurge muitas vezes na poesia de Drummond. A terra natal - ltabira - transforma-se então no símbolo da atmosfera cultural e afetiva vivida pelo poeta.
Da análise de sua experiência individual, da convivência com outros homens e do momento histórico, resulta a constatação de que o ser humano luta sempre para sair do isolamento, da solidão. Neste contexto questiona-se a existência de Deus.
Nos primeiros livros de Drummond, o amor teve tratamento irônico. Mais tarde, o poeta procura capturar a essência desse sentimento e só encontra - como Camões - as contradições.
“Que pode uma criatura senão, entre criaturas, amar? [...]
Amar a nossa falta mesma de amor,
e na secura nossa amar a água implícita, e o beijo tácito, e a sede infinita.”
Depois da morte de Drummond, reuniu-se no livro O amor natural uma série de poemas eróticos que exploram o aspecto físico do amor.
A metalinguagem, a reflexão sobre o ato de escrever, também fez parte das preocupações do poeta:
“Gastei uma hora pensando em um verso
que a pena não quer escrever.
No entanto ele está cá dentro
inquieto, vivo.
Ele está cá dentro
e não quer sair.
Mas a poesia deste momento
inunda minha vida inteira.”
terça-feira, 4 de setembro de 2007
Carlos Drummond de Andrade
Postado por Thereza Gerhard às 14:32
Marcadores: carlos drummond de andrade, poesia
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