terça-feira, 4 de setembro de 2007

Carlos Drummond de Andrade

Thereza Gerhard


Drummond nasceu em Itabira, Minas Gerias, em 1902.



“Alguns anos vivi em Itabira.
Principalmente nasci em Itabira.
Por isso sou triste, orgulhoso: de ferro.”


Estudou em colégios internos. Foi expulso da escola de Nova Friburgo, Rio de Janeiro, acusado de “insubordinação mental”. Em 1921 começou a colaborar com o Diário de Minas.

“O fato ainda não acabou de acontecer
e já a mão nervosa do repórter
o transforma em notícia.
O marido está matando a mulher.
A mulher ensangüentada grita.
Ladrões arrombam o cofre.
A polícia dissolve o meeting.
A pena escreve.
Vem da sala de linotipos a doce música mecânica.”


Em 1925, diplomou-se em farmácia, profissão pela qual demonstrou pouco interesse. Nessa época, já redator do Diário de Minas, tinha contato com os modernistas de São Paulo. Na Revista Antropofagia publicou, em 1928, o poema “No meio do caminho”, que provocaria muito comentário:

“Nunca me esquecerei desse acontecimento
na vida de minhas retinas tão fatigadas.
Nunca me esquecerei que no meio do caminho
tinha uma pedra.”


Ingressou no funcionalismo público e em 1934 e mudou-se para o Rio de Janeiro. Em agosto de 1987, Julieta, única filha do poeta, morreu. Doze dias depois, Drummond faleceu.

O poeta havia publicado vários livros de poesia e obras em prosa - principalmente crônicas. Em vida, já era consagrado como o maior poeta brasileiro.

Alguns poemas, crônicas e textos em prosa de Drummond relatam acontecimentos banais, corriqueiros, gestos ou paisagens simples.

Muitos poemas de Drummond funcionam como denúncia da opressão que marcou o período da Segunda Grande Guerra.

A consciência do tenso momento histórico produz a indagação filosófica sobre o sentido da vida, pergunta para a qual o poeta só encontra uma resposta pessimista.

“E agora, José?
A festa acabou,
a luz apagou,
o povo sumiu,
a noite esfriou,
e agora, José?
e agora, Você?
Você que é sem nome,
que zomba dos outros,
Você que faz versos,
que ama, protesta?
e agora, José?”


O passado ressurge muitas vezes na poesia de Drummond. A terra natal - ltabira - transforma-se então no símbolo da atmosfera cultural e afetiva vivida pelo poeta.

Da análise de sua experiência individual, da convivência com outros homens e do momento histórico, resulta a constatação de que o ser humano luta sempre para sair do isolamento, da solidão. Neste contexto questiona-se a existência de Deus.

Nos primeiros livros de Drummond, o amor teve tratamento irônico. Mais tarde, o poeta procura capturar a essência desse sentimento e só encontra - como Camões - as contradições.

“Que pode uma criatura senão, entre criaturas, amar? [...]
Amar a nossa falta mesma de amor,
e na secura nossa amar a água implícita, e o beijo tácito, e a sede infinita.”


Depois da morte de Drummond, reuniu-se no livro O amor natural uma série de poemas eróticos que exploram o aspecto físico do amor.

A metalinguagem, a reflexão sobre o ato de escrever, também fez parte das preocupações do poeta:

“Gastei uma hora pensando em um verso
que a pena não quer escrever.
No entanto ele está cá dentro
inquieto, vivo.
Ele está cá dentro
e não quer sair.
Mas a poesia deste momento
inunda minha vida inteira.”


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