terça-feira, 4 de setembro de 2007

Vinte anos sem Drummond

Thereza Gerhard

Vinte anos após a morte, Carlos Drummond de Andrade, ainda é lido, lembrado e homenageado. Não se cumpriu o que, na última entrevista ao suplemento Idéias, do Jornal do Brasil, Drummond previu: “Não tenho a menor pretensão de ser eterno. Pelo contrário: tenho a impressão de que daqui a vinte anos eu já estarei no Cemitério de São João Baptista. Ninguém vai falar de mim, graças a Deus. O que eu quero é paz”. Drummond faleceu, dia 17 de agosto de 1987.

Um poeta sem projetos ou grandes ambições, um farmacêutico que não seguiu a profissão, um burocrata do Ministério da Educação, um jornalista que não lidava com a rapidez de uma redação. Um homem comum, como ele mesmo se definia. Um paradoxo, de acordo com a professora de Letras e Comunicação Social, Beatriz Pacheco. Um funcionário público que conseguia ter a sensibilidade de um poeta. Um grande poeta, escritor e cronista que se considerava apenas o pacífico mineiro de Itabira. Recusou-se a entrar para Academia Brasileira de Letras, alegando não ter espírito ou tendência para ser acadêmico. Um escritor que sentia emoção e alegria ao criar sua obra. Porém, muito crítico com a mesma.

Drummond, além de poeta, era cronista. Começou no Jornalismo, como colaborador do jornal Diário de Minas. Não participou de nenhuma grande reportagem, nem da correria da apuração de grandes acontecimentos. Escrevia em casa e o jornal mandava alguém apanhar a matéria.

Um dos gêneros pouco abordados pela crítica da obra de Drummond é a crônica esportiva. Em 1957, Drummond reproduz, em "Fala Amendoeira", uma crônica cujo tema é "O Mistério da Bola", que se abre com o seguinte parágrafo: "Quando Bauer, o de pés ligeiros, se apoderou da cobiçada esfera, logo o suspeitoso Naranjo lhe partiu ao encalço, mas já Brandãozinho, semelhante à chama, lhe cortou a avançada”. O cronista contribuiu para o resgate da crônica em versos.

Drummond foi um poeta preocupado com a educação, a natureza, a morte, o amor, o país e os brasileiros. E também foi um poeta de si mesmo e da própria poesia. “Eu acredito que a poesia tenha sido uma vocação, embora não tenha sido uma vocação desenvolvida conscientemente ou intencionalmente. Minha motivação foi esta: tentar resolver, através de versos, problemas existenciais internos. São problemas de angústia, incompreensão e inadaptação ao mundo”, declarou o poeta em última entrevista.

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